PRÁTICA BUDISTA: HARMONIA FAMILIAR
No domingo 28 de novembro de 2021 realizou-se
a 62ª reunião do Bloco Sol no Coração[1],
com o tema da Harmonia Familiar. Como ocorre há quase dois anos, o encontro se
deu online, beneficiando-se das múltiplas vantagens do formato eletrônico:
permite que pessoas de diferentes lugares se reúnam, quebra a barreira da
distância, é totalmente seguro, pois ninguém viaja, simples, versátil, barato e
democrático. Permite ainda engajar mais facilmente os jovens, que se sentem
totalmente à vontade no mundo virtual. Um formato que veio para ficar e
perdurará sem dúvida com a volta do presencial, através de um sistema híbrido.
Com
relação ao tema, um dos participantes disse que a família deve ser vista como
um órgão interno, com funcionamento biológico e interdependente. Para ele,
assim como as boas relações começam em família, estar bem consigo mesmo
significa estar bem com sua família.
Outro
assimilou a família a um barco, de cuja base dependem os tripulantes em meio a
um mar revolto. Assim como a travessia é realizada em conjunto, se o barco afunda,
afogam todos. Enfatizou ainda a diferença entre a família e os amigos, que
tendem a se aproximar e se distanciar conforme determinadas circunstâncias.
Dentre
os menores, outras opiniões, igualmente maduras: para um, o diálogo é a base da
harmonia familiar, pois é dele que resulta o entendimento. Mais do que qualquer
outra coisa, enfatiza, é preciso conversar, mandando esse recado aos pais.
Outro
jovem destacou a importância da interação entre os membros da família, pois é
através desta que se constroem os laços. A família é um grande teatro, deixa a
entender, onde os membros atuam juntos.
Outro
participante falou das dificuldades do diálogo, para o qual muitas vezes é
preciso traçar estratégias. Quando o diálogo não se faz possível, por questões
emocionais, é preciso buscar o momento adequado. E, de modo similar, utilizar
os meios adequados que a sabedoria budista oferece.
Uma
participante sublinhou a união de esforços e o objetivo comum que constituem as
bases do contrato entre os membros da família. Harmonia significa ausência de
conflitos e isso é possível através da interação. Apontou ainda para o detalhe
de que a interação e o estreitamento de laços não significa a supressão da
individualidade. Cada membro da família deve se desenvolver como é e ter
direito à privacidade.
Decorreu
daí a percepção da família enquanto coletividade, que educa, através do
convívio, para a sociedade e de como é importante o respeito entre os membros,
independentemente da idade.
Enfim,
outro participante afirmou que a prática da fé para se obter a harmonia
familiar é a mais importante das cinco diretrizes eternas da Soka Gakkai.
Como
acontece nas reuniões, estudou-se um Goshô de Nichiren Daishonin. Desta vez,
falou-se do escrito “Oferecimentos em meio à neve”, que se trata de uma carta
de agradecimento de Daishonin a um discípulo que lhe enviara suprimentos no
momento mais crítico do ano, quando Daishonin sofria perseguições e estava
isolado nas montanhas geladas.
Em
uma passagem do texto, lê-se:
“No litoral, a madeira é tida como um
tesouro, enquanto nas montanhas é o sal. Em uma seca, a água é considerada um
tesouro, enquanto na escuridão é uma lâmpada. As mulheres veem seus maridos
como tesouros e os homens olham para suas esposas como suas próprias vidas. Um
rei vê seu povo como seus parentes e o povo vê sua comida como o Paraíso.”
E
expressa sua gratidão ao discípulo, de forma emocionada:
“Além disso, desde o décimo-primeiro mês do último ano a neve tem se acumulado e obstruído os caminhos das montanhas. Apesar de o Ano Novo ter chegado, chega até mim o grito dos pássaros, mas não visitas. Eu estava me sentindo desamparado, pensando que, senão um amigo, quem haveria de me visitar aqui, durante os três dias de celebração. Então os seus noventa bolinhos de arroz apareceram, parecendo a lua cheia. Minha mente se iluminou e a escuridão da vida e da morte desaparecerá, tenho certeza. Quão admirável sua atitude, quão admirável!”
E reputa a nobreza do gesto a uma
herança do falecido pai do discípulo, que ele não chegara a conhecer:
“Dizem que
Ueno, seu falecido pai, era um homem de sentimento. Uma vez que você é seu
filho, talvez tenha herdado as notáveis qualidades do seu caráter. O índigo é
mais azul do que o anil e o gelo é mais frio do que a água.” [2]
A
expressão “o índigo é mais azul do que o anil” ou “o azul é mais azul do que o
anil” é uma metáfora budista para designar o poder de aperfeiçoamento dos
ensinos do Buda. Quanto mais se pratica, mais azul ou mais iluminado fica, de
modo que o discípulo pode superar o mestre e o filho ao pai.
Ω
Abrão
Brito Lacerda
[1] Grupo
budista de Timóteo, MG, ligado à Soka Gakkai.
[2] Offerings in the Snow, WND II
306, p. 809-810.
Comentários
Postar um comentário